Trump acende o pavio da guerra comercial: o strike anti-sistema que ameaça a economia global

Por Luiz Paulo Vellozo Lucas
Em mais um movimento de impacto global, o ex-presidente Donald Trump voltou a ser o epicentro de uma intensa controvérsia econômica e política. O anúncio de uma revisão tarifária nos impostos de importação dos Estados Unidos provocou reações imediatas no mercado global. A medida, que impõe tarifas mais altas aos países com superávit na balança comercial com os EUA, tem como principal alvo a China — que viu sua tarifa saltar para 50%, com possibilidade de dobrar para 104% diante da retaliação chinesa.
Enquanto países com déficit na balança comercial com os Estados Unidos, como o Brasil, enfrentam uma sobretaxa mais branda de 10%, o clima de tensão e incerteza já causa efeitos preocupantes.
Efeitos econômicos imediatos
A nova política comercial desencadeou três consequências diretas. A primeira foi uma perda maciça de valor no mercado financeiro global, estimada em trilhões de dólares, resultado da fuga de investidores diante da instabilidade. O segundo impacto é a elevação do custo de produtos importados ou com componentes tarifados — o iPhone, por exemplo, pode saltar de US$ 999 para até US$ 1.500 no mercado americano. E, por fim, o terceiro e mais grave efeito: uma possível recessão global, gerada pela retração nas vendas, produção e investimentos.
Economistas, empresários e políticos — até mesmo antigos aliados de Trump — reagiram com veemência, considerando a medida um erro estratégico com danos irreversíveis, mesmo que haja um recuo posterior. Para muitos, essa ofensiva representa mais que uma manobra de barganha: é o aprofundamento de uma agenda autoritária, com efeitos desastrosos sobre a ordem econômica mundial.
A face autoritária por trás da política econômica
A ofensiva tarifária de Trump deve ser compreendida em um contexto mais amplo. No front interno, o ex-presidente tem se dedicado a uma série de ataques às instituições democráticas. Universidades, órgãos de imprensa, escritórios de advocacia, imigrantes e até mesmo o Judiciário têm sido alvos de perseguições e pressões ilegítimas, em uma estratégia de desmonte institucional.
Essa postura se articula a interesses econômicos poderosos. A presença ostensiva de CEOs das Big Techs na posse de Trump é simbólica: revela a convergência entre o populismo autoritário e os interesses das maiores corporações do mundo, que se beneficiam da desregulação e do caos político.
Um caminho perigoso
Ao desafiar simultaneamente adversários políticos, potências econômicas e as estruturas democráticas dos Estados Unidos, Trump arrisca provocar uma crise de grandes proporções. Pode até ser derrotado no final, mas não sem antes deixar um rastro de destruição econômica e institucional que terá efeitos duradouros sobre a ordem mundial — e, sobretudo, sobre o povo americano, que sofrerá as consequências diretas do empobrecimento e da instabilidade.
A democracia, com todas as suas imperfeições, requer reformas e aprimoramentos constantes. Subvertê-la em nome de um projeto autoritário é uma ameaça real. “Botar fogo no parquinho” não é uma opção civilizatória.

Engenheiro, Mestre em Desenvolvimento Sustentável, ex-prefeito de Vitória-ES e membro da ABQ-Academia Brasileira da Qualidade.