Projeto de dessalinização de água do mar no ES custará R$ 1 bilhão; estudos estão concluídos
A crise hídrica no Espírito Santo é uma realidade presente há alguns anos, com tendência de agravamento, especialmente considerando que o planeta enfrenta mudanças climáticas para as quais ainda não há soluções claras no horizonte. A falta d’água é um dos efeitos mais severos dessas mudanças, já que a alteração no ciclo hidrológico reduz a regularidade das chuvas, comprometendo as vazões dos rios. Esse cenário é agravado pelo aumento da demanda hídrica, tanto em áreas urbanas quanto rurais, que dependem cada vez mais de um fornecimento estável de água.
A Serra é a cidade com o maior crescimento populacional do país, fenômeno que começou na década de 1960, com o início do ciclo econômico industrial, e nunca mais cessou. Em 1984, o Governo do Estado idealizou o atual sistema de abastecimento, captando água do Rio Santa Maria da Vitória, canalizando-a até a estação de tratamento em Jardim Limoeiro, e de lá distribuída.
Com esse sistema já defasado, em 2017 o Governo inaugurou o sistema Reis Magos para abastecer Serra Sede e parte de Jacaraípe. Embora tenha sido um reforço importante, o projeto enfrenta limitações devido ao baixo volume de captação do Rio Reis Magos, um manancial de volume restrito.
Dentre as soluções possíveis para mitigar esse grave cenário de baixa precipitação de chuvas, queda nos índices de vazão dos rios e aumento da demanda hídrica — tanto para consumo humano quanto para a produção de alimentos e o setor industrial — está a dessalinização da água do mar, uma realidade em diversas partes do mundo. E é nesse sentido que o Espírito Santo deve avançar.
No final de 2023, o Governo do Estado manifestou interesse em um projeto de dessalinização da água do mar. Em seguida, a gigante do setor, GS Inima, uma empresa espanhola de capital sul-coreano, protocolou uma Manifestação de Interesse Privado (MIP). Em março, a GS Inima, juntamente com três empresas brasileiras, apresentou um projeto para dessalinização no Espírito Santo, com a empresa espanhola sendo selecionada. Nesta última terça-feira (24), o vice-governador e secretário estadual de Desenvolvimento, Ricardo Ferraço, anunciou que os estudos foram concluídos e que o projeto custará R$ 1 bilhão.
A iniciativa é uma parceria com a Cesan (Companhia Espírito-Santense de Saneamento) e promete ser a maior usina de dessalinização do Brasil. O investimento, superior a R$ 1 bilhão, será totalmente privado. A escolha da empresa será realizada via leilão na B3, no qual a própria GS Inima, que formulou o projeto, poderá participar. A expectativa é que, até o fim do ano que vem, o trâmite burocrático esteja concluído, e o leilão ocorra no início de 2026. Segundo Ferraço, a nova usina terá capacidade de produzir até 1.200 litros de água por segundo, o que corresponde ao abastecimento de uma cidade com 500 mil habitantes.
“Estamos enfrentando uma grande crise hídrica e precisamos buscar alternativas. Essa é uma tecnologia já dominada em várias regiões do mundo. Vamos captar água do mar e convertê-la em água potável para estabilizar o fornecimento de água em todo o Espírito Santo”, afirmou Ferraço.
Caberá ao Governo do Estado autorizar e regular a modelagem, de modo que a iniciativa privada execute o investimento e opere o sistema, que compreende a captação, adução, tratamento, reservação e interligação ao sistema existente da Cesan. Segundo Ferraço, essa água proveniente da dessalinização será integrada às redes de abastecimento, “sem que o consumidor pague nada a mais por isso”.
Ainda não está claro como esses 1.200 litros por segundo serão destinados aos municípios, sabe-se, porém, que a planta ficará no litoral de Guarapari e visa atender a Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV), município de Anchieta e a orla do município de Aracruz. Contudo, se os critérios incluírem a oferta de água para a indústria e a projeção de crescimento populacional, a Serra certamente estará entre os municípios prioritários. A cidade ganha, em média, 10 mil novos moradores por ano e é uma das que mais cresce em termos populacionais no país. Além disso, a segurança hídrica para o setor produtivo é estratégica para a economia local, uma vez que a Serra possui a maior economia do Espírito Santo.
Resta aguardar novas informações a respeito, mas é evidente que a crise hídrica já se coloca entre os principais desafios enfrentados pelos capixabas, não mais como uma ameaça futura, mas como uma realidade presente. Embora o tema ainda não tenha atingido a atenção da massa populacional, dispositivos estão sendo implementados para mitigar seus impactos, como as medidas que restringem o uso de água na indústria e na agricultura. No entanto, essas ações já podem ser vistas como uma espécie de antessala para um possível racionamento de água voltado à população.
Além do uso de tecnologias, soluções ambientais, como a recuperação das bacias hidrográficas que abastecem o estado, também são fundamentais. O Rio Santa Maria, por exemplo, que abastece a Serra, tem sido refém de um processo de degradação que se estende desde suas nascentes em Santa Maria de Jetibá até seu estuário, onde se conecta com o Lameirão.
Fonte : Tempo Novo
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