Marcelo Santos: “Fico mais feliz quando consigo um acordo entre partes contrárias do que quando venço um adversário nas urnas”

Marcelo Santos: “Fico mais feliz quando consigo um acordo entre partes contrárias do que quando venço um adversário nas urnas”

Presidente da Assembleia Legislativa do Espírito Santo

Presidente eleito em chapa única para comandar a Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), nos próximos dois anos, o Deputado Estadual Marcelo Santos (Podemos), que está no seu sexto mandato consecutivo, deixou claro em seu discurso de posse, no último dia 1 de fevereiro, que vai trabalhar em conjunto com o governador Renato Casagrande (PSB).

O parlamentar destacou o papel da Ales para viabilizar obras importantes para a população do Espírito Santo, destacando que é o Poder Legislativo quem analisa o Orçamento anual do Estado, que este ano deve superar a casa dos R$ 23 bilhões.

O Deputado assumiu seu primeiro mandato no legislativo estadual em 2003 e lembrou que, naquela época, o Estado tinha pouca capacidade de investimentos, se destacando na imprensa apenas como um dos estados mais violentos do País.

Para ele, o panorama atual é totalmente diferente daquele do início dos anos 2000. Essa reconstrução da identidade política, realizada nos últimos 20 anos, vem possibilitando que o Estado mantenha a nota A do Tesouro Nacional, um requisito que torna o Espírito Santo capaz de realizar investimentos.

O parlamentar conversou com a reportagem do Portal Política Capixaba frisando, por meio de uma famosa citação do político mineiro Tancredo Neves, que um acordo entre opositores o deixa mais feliz do que derrotar um adversário nas urnas.

Confira a entrevista:

Em seu discurso de posse, o senhor citou uma frase de Tancredo Neves, na qual afirma se sentir mais feliz com um acordo entre partes, do que derrotando um adversário nas urnas. O senhor já entrou na política com esse pensamento ou isso é fruto do aprendizado, da experiência?

Tancredo Neves foi um grande estadista, defensor da democracia, um político admirável que atuou no processo de redemocratização do nosso país. Meu interesse por política começou em casa vendo meu pai atuar como prefeito e deputado federal. A história nos mostra como agir para garantir os interesses da população e o crescimento do nosso estado e país. Citei especificamente Tancredo Neves no início do meu discurso, por conta do resultado do processo eleitoral que definiu a nova composição para a mesa diretora da assembleia que foi alcançado com muito diálogo, respeito às opiniões divergentes e busca permanente de consensos, algo positivo para a Assembleia, para o governo do Estado e para toda a população capixaba.

Como o senhor avalia e a que atribui essa divisão política, alimentada no Brasil nos últimos anos?

Vivemos um país dividido, com a intolerância, a discórdia e a falta de respeito em confronto direto com a harmonia, a solidariedade e a paz. Precisamos superar esse período conflituoso para sermos uma só Nação, coesa, soberana e consciente de seu potencial.

Acredita que essa tendência à polaridade política vai mudar e os brasileiros vão pensar da mesma forma que o senhor comentou, por meio da citação?

Acredito que não há um Espírito Santo de direita e um Espírito Santo de esquerda, mas o Estado do Espírito Santo, onde todos buscam um mesmo objetivo: igualdade de oportunidade para todos e desenvolvimento econômico, com geração de emprego e renda para a população e riquezas para o Poder Público melhorar, a cada dia, a prestação dos serviços.

Quais são suas expectativas com relação a esse novo ciclo da política nacional, que começou em 2023?

Eu sou da tese do positivismo e prefiro acreditar que, juntos, podemos fazer dar certo. A política é um exercício constante de diálogo, de debate, de entendimento, buscando sempre que o país dê certo. Afinal de contas, é aqui que moramos, criamos nossos filhos… Somos um país continental, plural, com riquezas imensuráveis, com plena capacidade de mitigarmos as desigualdades vivenciadas pela população brasileira. Acredito que, quem entra para a política, tem um mesmo propósito: batalhar com melhoria da qualidade de vida de todos os cidadãos.

O alinhamento entre sua legislatura e o governo do Estado representa também um alinhamento com a bancada capixaba em Brasília?

Durante seis anos, fui vice-presidente do meu amigo e agora ex-deputado Erick Musso, a quem quero cumprimentar e agradecer pela parceria durante todos esses anos e fez um belo trabalho, mas agora o presidente é outro.

Tenho minhas ideias, meus objetivos e vamos trabalhar para fortalecer os mandatos dos colegas deputados e aproximar o Poder Legislativo da sociedade capixaba. Além disso, somos representantes  da população do nosso Estado e, visando o crescimento e desenvolvimento do Espírito Santo.

Uma das pautas prioritárias é como já pontuei no início dos trabalhos na Assembleia, quando convoquei os deputados e as autoridades presentes na Sessão para, junto com o governador Renato Casagrande, cobrarmos do Governo Federal os investimentos necessários para o Espírito Santo. Precisamos repensar e debater mais profundamente um novo Pacto Federativo.

Como o senhor avalia a distribuição dos recursos do orçamento estadual para 2023?

O orçamento anual do Espírito Santo é o mais importante projeto de lei que é aprovado na Assembleia Legislativa. Ele orienta a administração estadual e suas iniciativas de desenvolvimento social e econômico. O orçamento pra esse ano supera a casa dos R$ 23 bilhões.  Acredito que ele é coerente com o projeto de crescimento do Estado. Nossas finanças estão equilibradas, com nota A do Tesouro Nacional e temos uma das melhores, se não a melhor, capacidade de investimento e até de endividamento. É o famoso crédito na praça!

Quais são as obras prioritárias para a população capixaba e quais campos requerem mais investimentos, para que o Estado continue se mantendo entre os que mais crescem do País?

Precisamos resolver os gargalos de infraestrutura, destravar obras e projetos que se arrastam por anos, como as obras de implantação da BR-447, entre Viana e o porto de Capuaba; a duplicação das BR´s 101 e 262, que cortam nosso estado, levando desenvolvimento e mercadorias para o interior do nosso Brasil. Temos mais de 200 obras paralisadas no Espírito Santo que precisam ser concluídas. Isso é sinônimo de desperdício de dinheiro público e ineficiência do estado. Precisamos desburocratizar o setor e dar uma resposta rápida ao povo capixaba, entregando obras e projetos que são os sonhos de cada um que vive no Estado.

Temos uma vocação logística invejável e precisamos garantir os investimentos necessários para que sigamos sendo destinos de grandes empresas. Para isso, o governo do estado irá recuperar a malha rodoviária estadual, vai entregar o novo terminal de passageiros do aeroporto de Linhares ainda no primeiro trimestre desse ano, o sistema de transporte aquaviário será retomado. Em paralelo a isso tudo, investimentos importantes estão acontecendo também na reforma e construção de unidades de saúde, hospitais, escolas e modernizando as forças de segurança para garantir um Estado mais seguro.

Como o senhor avalia a utilização das emendas parlamentares pelos Deputados Estaduais? Qual valor é destinado para cada um? Quais são os requisitos para a obtenção desses valores, por parte dos parlamentares e como é feita a prestação de contas?

No orçamento que está em curso, do ano de 2023, cada parlamentar, ainda na legislatura anterior, teve direito a R$ 1,5 milhão de emenda parlamentar. Foi na legislatura passada pois o orçamento é votado de um ano para o outro. Os deputados utilizam esse montante para prestigiar e contemplar demandas que suas bases apresentam como equipamentos para hospitais, maquinários agrícolas, manutenção de projetos sociais, veículos para melhorar a prestação de serviços das prefeituras. Sempre de olho numa melhor qualidade de vida do capixaba.

O senhor afirmou que a capacidade de investimentos do Estado, em 2003 era “pouca ou nenhuma”. O que mudou politicamente, nessas quase duas décadas? O que ainda precisa mudar?

Logo quando assumi meu primeiro mandato, o Espírito Santo figurava nas páginas policiais, com escândalos, corrupção e desorganização das contas públicas, uma época em que o servidor, para receber seu salário, tinha que pedir empréstimo no Banestes e depois pagar juros, porque não tinha um calendário de pagamentos como tem hoje, capacidade de investimento em obras e compra de equipamentos importantes à prestação de um serviço público de qualidade. Hoje o cenário é de contas públicas organizadas, nota A do Tesouro Nacional, onde o mercado enxerga o Espírito Santo como bom pagador, sem que o prestador de serviço precise ficar cobrando o secretário. Tudo e todos são pagos religiosamente em dia.

E a cidade de Cariacica, de onde o senhor se projetou para a política, está muito diferente de 2003? Como o senhor projeta o futuro do seu município de origem?

Antes da campanha de 2020 decidi, junto com minha família, o governador Renato Casagrande, amigos e grupo político, que não seria candidato. Estávamos no auge da crise sanitária e fui chamado a permanecer na Assembleia, ajudando, com minha experiência, a dar as respostas mais urgentes que a situação demandava.

Foi então que decidi apoiar o Euclério, colega de bancada da Assembleia durante muito tempo. E hoje está surpreendendo a todos.  Quem não votou, está vendo tudo que ele está fazendo pela nossa cidade. Quem votou nele, sabendo da capacidade dele, também está se surpreendendo com o tanto que ele tem mudado a história de Cariacica, que não para de crescer, melhorando nossa infraestrutura viária, melhorando a mobilidade urbana, educação de qualidade.

 

Carlos Mobutto | Jornalista da AZ