Espetáculo “Escrita dos Invisíveis” leva a ancestralidade negra aos palcos da Serra

Espetáculo “Escrita dos Invisíveis” leva a ancestralidade negra aos palcos da Serra

A montagem estrelada pela dançarina capixaba Yuriê Perazzini será apresentada na Igreja dos Reis Magos, em Nova Almeida, na Serra. O evento acontece no dia 14 de setembro com entrada gratuita.

Após a estreia em Salvador (BA), na Casa de Cultura Somovimento, no final de agosto, o espetáculo de dança “Escrita dos Invisíveis” chega ao Espírito Santo. A montagem é o resultado da parceria entre a dançarina capixaba Yuriê Perazzini e a coreógrafa baiana Vera Passos, artistas com notório saber e reconhecimento público na área das danças urbanas e danças afro-brasileiras.

A iniciativa tem como fio condutor o desejo de estabelecer uma comunicação entre a ancestralidade negra e a necessidade de reavivar memórias silenciadas, e compreende três apresentações, dois ensaios abertos e residências artísticas, seguidos por rodas de conversa com a artista. Também será lançada uma videoarte sobre a linguagem da dança como um produto independente do espetáculo.

O projeto “Escrita dos Invisíveis” foi contemplado pelo Edital nº 10/2022 – Seleção de Projetos de Artes Cênicas no Espírito Santo, da Secretaria de Estado da Cultura (Secult-ES).

A programação inclui ensaio aberto no dia 10 de setembro, no Espaço Cultural Casa Urbana, em Maruípe, Vitória; e apresentações no dia 12, em Conceição da Barra, no norte do Estado, no Instituto Tambor de Raiz; no dia 14, na histórica Igreja dos Reis Magos, em Nova Almeida, Serra; com encerramento no dia 15, em nova apresentação no Espaço Cultural Casa Urbana.

Saberes

De acordo com Yuriê Perazzini, “Escrita dos Invisíveis” é um trabalho de investigação da memória das populações negras – suas histórias, riquezas, culturas, saberes – em que o corpo será o vetor de comunicação da pesquisa e o veículo que irá estabelecer o diálogo entre artistas e público. “Esse trabalho é fundamental para a ampliação dos saberes, pois irá buscar fatos e feitos que até pouco tempo estavam escondidos, apagados, silenciados; e para a autovalorização de populações negras que habitam territórios capixabas e baianos”, d estaca Yuriê.

Na sessão de fotos de divulgação do trabalho, assinada por Mariana Garcia, Yuriê aparece diante de figurinos e cenários que representam a devoção aos orixás, o respeito à natureza e a filiação do Brasil à África, traduzindo, em termos estéticos, o conceito que permeia o espetáculo.

Trata-se de uma apresentação solo na qual ela se propõe a conjugar as diferentes linguagens que permeiam sua trajetória de mais de três décadas na dança. “Utilizamos como referência de técnica corporal as danças urbanas, as danças tradicionais afrodiaspóricas, a cultura hip hop, as danças religiosas de matriz africana e a Técnica Silvestre”, afirma Yuriê, referindo-se à técnica de dança na qual se trabalha a parte motora do corpo por meio da expressividade e da simbologia dos orixás.

Elementos

A trilha sonora do espetáculo foi desenvolvida pelo produtor musical Leandro Bonfim e pela artista sonora Flávia Bonelli, juntamente com Yuriê Perazzini, bem como a iluminação, assinada pelo artista André Stefson em conjunto com a dançarina. Esses elementos de criação foram construídos de modo a complementar e intensificar os sentidos, sensações e text os criados na peça.

Já a videoarte está sendo gravada em Salvador pelos artistas Larissa Leão e João Rafael Neto, com edição de Alexandra Martins, a partir de um roteiro baseado no espetáculo, levando em conta suas imagens, inspirações, reflexões e contextos políticos, estéticos e criativos.

Com a difusão deste trabalho, Yuriê almeja o fortalecimento da sensibilidade negra como expressão de um saber e viver coletivo, visando à transformação de realidades dessa população. “Escrita dos Invisíveis busca a referência e reverência aos ancestrais pretos e pretas, e convoca a atual geração capixaba e baiana a possibilidades de futuro com muito mais sensibilidade, igualdade, força e respeito”, vislumbra a artista.

Apresentação

Data: 14 de setembro
Horário: 18h
Local: Igreja dos Reis Magos – Travessa Reis Magos II, Nova Almeida, Centro, Serra – ES, 29.182-528
Roda de conversa

Sobre as artistas

  • Yuriê Perazzini é capoeirista, dançarina, professora, coreógrafa, pesquisadora, artista e gestora do espaço cultural Casa Urbana. Precursora das danças urbanas no Espírito Santo, desde 2002 vem se aprofundando nos estudos da diáspora africana. Em 2009 criou a União de Dançarines do Espírito Santo (UDES) e o Encontro de Danças Urbanas, além de ser criadora da metodologia “Dance Fusion: Como descolonizar um corpo? – Método Moquear”.
  • Vera Passos atua como coreógrafa, bailarina e professora de dança, acumulando reconhecimento nacional e internacional. Em 1992, ao lado da criadora Rosângela Silvestre, deu início aos estudos da Técnica Silvestre, tendo ministrado seminários sobre esta técnica e sobre os símbolos das danças dos orixás em países da Europa, da América do Norte e da América Latina. Atualmente, atua como diretora da Casa de Cultura Somovimento, em Salvador (BA), fundada por ela em 2020 em conjunto com Nei Sacramento.

Fonte : Tempo Novo